segunda-feira, 29 de julho de 2019



Amigo Verdadeiro

Desalentado com a impossibilidade de ter namorada, decidi cometer suicídio. Pensei na melhor maneira  para a execução deste  ato extremo. Saltar da minha janela, opção logo descartada, pois  correria o risco de não concretizar o intento e ainda, quebrar costelas, pernas, braços, sofrer escoriações e  internação nada agradável. Como a agravante, a vergonha de ter sobrevivido. Nada mais desonroso que suicídio não concretizado. Arma de fogo nem pensar, incompetente que sou em manuseá-la. Cortar os pulsos poderia ser a solução, só que com muita sujeira. Não cogitei o veneno que pode anteceder uma agonia desnecessária.

Contei minha intenção a um amigo que, prontamente, deu a solução. Uma viga em sua casa, onde já está dependurada uma corda resistente e mais o banquinho. Como não poderia ser diferente, me emocionei com essa prova de profunda amizade. Cada vez mais rara nestes dias de incompreensão política e social.  Acertamos para que tudo acontecesse na sexta-feira santa que entendia ser uma ocasião adequada.

Quando me preparava psicologicamente para poder partir, lembrei que  minha neta disse, certo dia, que se parecia comigo. Ela é linda. Olhei no espelho e vi que não sou tão feio que não pudesse atrair a atenção de uma bela mulher. Desisti da ideia do suicídio, não sem agradecer sensibilizado  a prova de amizade demonstrada. Ainda existem amigos verdadeiros.

Jorge Nicoli


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