quinta-feira, 16 de janeiro de 2020


Zaratustra e a apologia ao Sol
Quando chegou aos trinta anos, Zaratustra deixou sua pátria e o lago de sua terra natal e partiu para as montanhas. Lá permaneceu, nutrindo-se de seu espírito e de sua solidão, sem se cansar. Dez anos se passaram. Seu coração, porém, mudou e, uma manhã, tendo-se levantado com a aurora pôs-se frente ao sol e assim falou:
“Tu, grande astro! Que seria de tua sorte, se te faltassem aqueles a quem iluminas? Há dez anos continuas subindo até minha caverna. Se eu, minha águia e minha serpente não estivéssemos aqui, tu te haverias cansado de tua luz e deste trajeto.

Nós, porém, te esperávamos todas as manhãs para recebermos teu supérfluo e por ele te rendemos graças. Pois bem, já ando farto de minha sabedoria, como a abelha que acumulasse demasiado mel. Sinto necessidade de mãos que se estendam para mim.

Quem dera eu pudesse prodigalizar e repartir até o dia em que os sábios, entre os homens, se sentissem felizes por sua loucura e os pobres, felizes por sua riqueza.

Por isso, preciso descer às profundidades, como tu fazes todas as noites, quando mergulhas para além do mar para levar tua luz ao mundo subterrâneo, astro que tudo superas.

Como tu, preciso declinar, como dizem os homens, entre os quais pretendo descer.
Abençoa-me, pois, olho afável que pode ver sem inveja até mesmo o excesso de felicidade.

Friedrich Bietzsche,


Nenhum comentário:

Postar um comentário