A Casa do Escritor
O
escritor organiza-se no seu texto como em sua casa. Comporta-se nos seus
pensamentos como faz com os seus papéis, livros, lápis, tapetes, que leva de um
quarto para o outro, produzindo uma certa desrodem. Para ele, tornam-se peças de mobiliário em que
se acomoda, com gosto ou desprazer.
Acaricia-os
com delicadeza, serve-se deles, revira-os, muda-os de sítio, desfá-los. Quem já
não tem nenhuma pátria, encontra no escrever a sua habitação. E aí produz, como
outrora a família, desperdícios e lixo.
Mas
já não dispõe de desvão e é-lhe muitíssimo difícil livrar-se da escória. Por
isso, ao tirá-la da sua frente, corre o risco de acabar por encher com ela as
suas páginas.
A
exigência de resistir à auto-compaixão inclui a exigência técnica de defrontar
com extrema atenção o relaxamento da tensão intelectual e de eliminar tudo
quanto tenda a fixar-se como uma crosta no trabalho, tudo o que decorre no vazio,
o que talvez suscitasse, num estádio anterior, como palavreado, a calorosa
atmosfera em que emerge, mas agora permanece bafiento e insípido. Por fim, já
nem sequer é permitido ao escritor habitar nos seus escritos.
Theodore Adorn
filósofo, sociólogo
e músico
que nasceu
em 11 de setembro de 1903, na Alemanha
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