Imaginação ou
Sensibilidade?
Não é certo que para a criação de uma obra
literária a imaginação e a sensibilidade sejam qualidades equivalentes, e que a
segunda possa sem grande inconveniente substituir a primeira, do mesmo modo que
há pessoas cujo estômago é incapaz de digerir e que encarregam os intestinos
dessa função.
Um homem que nasceu sensível e que não tenha
imaginação poderá apesar disso escrever romances admiráveis. O sofrimento que
os outros lhe causarão, os esforços para o evitar, os conflitos que esse
sofrimento e a outra pessoa cruel irão criar, tudo isso, interpretado pela
inteligência, poderá constituir matéria para um livro não apenas tão belo como
se tivesse sido imaginado, inventado, mas também tão exterior aos sonhos, do
autor, se este, feliz, se tivesse deixado arrastar por si mesmo, tão
surpreendente para ele próprio, tão acidental como um capricho fortuito da
imaginação.
Marcel
Proust, escritor, nascido na França em 1871
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