Carta aos Médicos-chefes dos Manicômios
(trecho inicial)
As
leis e os costumes vos concedem o direito de medir o espírito. Essa jurisdição
soberana e temível é exercida com vossa razão. Deixai-nos rir. A credulidade
dos povos civilizados, dos sábios, dos governos, adorna a psiquiatria de não
sei que luzes sobrenaturais. O processo da vossa profissão já recebeu seu
veredito. Não pretendemos discutir aqui o valor da vossa ciência nem a duvidosa
existência das doenças mentais.
Mas
para cada cem supostas patogenias nas quais se desencadeia a confusão da
matéria e do espírito, para cada cem classificações das quais as mais vagas
ainda são as mais aproveitáveis, quantas são as tentativas nobres de chegar ao
mundo cerebral onde vivem tantos dos vossos prisioneiros? Quantos, por exemplo,
acham que o sonho do demente precoce, as imagens pelas quais ele é possuído,
são algo mais que uma salada de palavras?
Escrita em 1925 por
Antoine Artaud, nascido na França em 1896, poeta, ator, escritor,
dramaturgo, roteirista e diretor de teatro de aspirações anarquistas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário