Extremos da paixão
(trecho)
No
século XX não se ama. Ninguém quer ninguém. Amar é out, é babaca, é careta.
Embora persistam essas estranhas fronteiras entre paixão e loucura, entre
paixão e suicídio. Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais
forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa
pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira: compreendo sim. Mesmo
consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe,berrando de pavor para o
mundo insano, e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do
pó.
Caio Fernando Abreu, nascido em Santiago, RS,
em 1948, escritor, dramaturgo, cronista, jornelista
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