quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019



O Falso Contato


O mais absurdo destas vidas que pensamos viver é o seu falso contato. Órbitas isoladas que de vez em quando se aproximam, uma conversa de cinco minutos, um dia nas corridas, uma noite na ópera, um velório onde todos se sentem um pouco mais unidos (e é verdade, ainda que também seja certo que a união depressa se acaba). Ao mesmo tempo, uma pessoa vive convencida de que os amigos estão lá, que o contato existe, que as concórdias e as discórdias são profundas e duradouras. Como nos odiamos uns aos outros sem saber que o carinho é a forma presente desse ódio, que a razão do ódio profundo é esta alteridade, o espaço intransponível entre eu e tu, entre isto e aquilo. Qualquer forma de carinho é uma bofetada ontológica, che, uma tentativa de nos apoderarmos do inacessível. 

Julio Cortázar,  escritor nascido na Argentina em 19

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