Uma mulher sem areia nenhuma
Tenho o santo horror da frieza calculada,
da boa educação, do prudente juízo duma mulher. Aos homens pertence tudo isso,
e a mulher deve ser muito feminina, muito espontânea, muito cheia de pequeninos
nadas que encantem e que embalem. Meu amigo, se esperas ter uma mulher sem
areia nenhuma, morres de aborrecimento e de frio ao pé dela e não será com
certeza ao pé de mim... Comigo hás-de ter sempre que pensar e que fazer. Hás-de
rir das minhas tolices, hás-de ralhar quando elas passarem a disparates (hão-de
ser pequeninos...) e hás-de gostar mais de mim assim, do que se eu fosse a
própria deusa Minerva com todo o juízo que todos os deuses lhe deram.
Florbela Espanca,
poeta portuguesa, nascida em 8 de dezembro de 1894.
poeta portuguesa, nascida em 8 de dezembro de 1894.
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