Metamorfose Ambulante*
O
silêncio sepulcral só é quebrado pelo som minimalista do soluço da criança
trajando verde e amarelo e há marcas de bala e sangue coagulado no terno de
linho branco do homem de bigode.
A
morte, acompanhada de anjos barrocos, faz sua ronda diária e a ave noturna tudo
observa, pousada na estátua do desertor desconhecido. A menina loira se banha
no poço contaminado pelos galhos de uma roseira cortada por um garoto
apaixonado.
Há
um cheiro ocre no ar e há um menino correndo da polícia. Há um velho escrevendo
poema de amor e há uma ninfeta seduzindo a serpente. Ratos e baratas desfilam
por sobre os restos de carne apodrecida, enquanto o pastor fala das coisas do
céu e do inferno e Jorge dá uma pausa na sua eterna luta contra o dragão da
maldade.
No
quarto vazio, o vazio se aloja no canto que sempre foi seu, e eu sinto o
encanto se perder no meio das brumas das minhas constantes metamorfoses.
¨
* música de Raul Seixas 1944/1997
Jorge
Nicoli, lorenense, nascido em Guaratinguetá em 1945
Nenhum comentário:
Postar um comentário