segunda-feira, 26 de março de 2018



A humanidade de Deus


Na realidade sou o quê? Um Deus? Um homem? A mistura dos dois, quem sabe? Um Deus-homem com poder, mas que pode pecar e sair dançando pelas ruas e praças, sem me importar com os olhares de recriminação. Mas Deus não pode dançar nem pecar. Sou um homem-Deus. Criei meu céu e meu inferno, coloquei o bem e o mal numa só alma, o bom e o mau num só espírito. Concebi a unidade dos opostos, dei à luz a escuridão e pari as sombras, estabeleci a ordem nas guerras urbanas, e deixei a desordem proliferar nos campos santos.

Manchei com sangue o branco da paz e limpei a face do Cristo com a bandeira vermelha, beijei a face do demônio, bailei com os anjos, comi o pão que o diabo amassou e sorvi o vinho sagrado das cerimônias religiosas.

Fiz poemas para as prostitutas e sexo com as puras, apertei a mão dos marginais e dei às costas aos homens de bem. Ordenei que o pecado e o perdão fizessem as pazes, que o puro e o ímpio se abraçassem. Girei nos terreiros com os Orixás e me ajoelhei diante das imagens de santos e virgens, rezando em latim. Sou o quê? Sou Deus que se fez homem.

  
Jorge Nicoli



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