A Esperança é o mais Frágil
dos
Sentimentos
Vivemos em Moçambique
anos terríveis de guerra e de desespero. Quando me perguntam como sobrevivemos
a esse tempo, as pessoas se apressam a falar da esperança. E dizem: pois é, a
esperança é a última a morrer. É isso que se diz. Contudo, não é verdade.
A esperança é o mais
frágil dos sentimentos, um dos primeiros a desvanecer. Ela morre, porém, no
sentido que os africanos têm da morte. Quer dizer, ela morre mas não fica
morta. Continua vivendo entre nós, do nosso lado. E vai comandando, secreta e
subtilmente, processos e destinos.
A esperança não é a
última a morrer ainda que possa ser a primeira a matar-nos. E estaremos mortos
se aceitarmos conviver, com cinismo, num mundo em que fazemos de conta
acreditar.
Mia Couto, escritor e biólogo, nascido em Moçambique
em 1955
Nenhum comentário:
Postar um comentário