Quando Escrevo
Quando eu recito ou quando eu
escrevo uma palavra, um mundo poluído explode comigo e logo os estilhaços desse
corpo arrebentado, retalhado em lascas de corte e fogo e morte (como napalm),
espalham imprevisíveis significados ao redor de mim. Uma palavra é mais que uma
palavra, além de uma cilada.
Agora não se fala nada e tudo
é transparente em cada forma; qualquer palavra é um gesto e em sua orla os
pássaros de sempre cantam apenas uma espécie de caos no interior tenebroso da
semântica. Escrevo, leio, rasgo, toco
fogo e vou ao cinema.
Torquato Neto
compositor, poeta, ator, jornalista
nascido no Piauí, em 1944.
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