quarta-feira, 3 de maio de 2017



A imagem pode conter: texto

Trágica Cena

Meus pés pisam o palco vazio, meus olhos procuram se acostumar à parca iluminação, minha voz rouca e insegura balbucia algumas palavras.
O silêncio sepulcral da platéia se mistura ao arfar de meu peito e eu sem jeito vou dizendo um texto ridículo.
Minhas mãos trêmulas buscam fios invisíveis para sustentar o personagem e minha boca se abre para entoar uma triste e minimalista melodia.
Meus passos tropeçam naquela música atonal e eu me agarro a um trágico personagem.
O cenário feito com latas enferrujadas e madeiras carcomidas, pintadas com cal, compõem a esdrúxula cena.
Tento me convencer da verdade que não existe, teimo em acreditar que não fujo de mim mesmo naquela figura indelevelmente tosca que me cobre.
Minha face se contorce numa grotesca encenação. O espetáculo se encerra, as luzes se acendem e os meus fantasmas aplaudem freneticamente a trágica cena.

Jorge Nicoli

(Este texto faz parte do
Grito de Alerta,
próximo espetáculo do
Sábia Indecisão)


Nenhum comentário:

Postar um comentário