A Cada Virtude
Corresponde um Vício
Habituo-me a só
pensar bem dos meus amigos, a confiar-lhe os meus segredos e o meu dinheiro;
não tarda que me traiam. Se me revolto contra uma perfídia sou eu, sempre, a
sofrer o castigo. Esforço-me por amar os homens em geral; faço-me cego aos seus
erros e deixo, indulgente ao máximo, passar infâmias e calúnias: uma bela manhã
acordo cúmplice. Se me afasto de uma sociedade que considero má, bem depressa
sou atacado pelos demônios da solidão; e procurando amigos melhores, acho os
piores.
Mesmo depois de
vencer as paixões más e chegar, pela abstinência, a uma certa tranquilidade de
espírito, sinto uma auto-satisfação que me eleva acima do próximo; e temos à
vista o pecado mortal, a vaidade imediatamente castigada. Como explicar
que toda a aprendizagem de virtude dê origem a um novo vício?
August
Strindberg
Romancista e
dramaturgo
nascido na
Suécia em 1849
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