A Sensura
A
nossa sociedade autoriza tudo o que não a incomoda. Se isto já não é plenamente
verdade nos nossos dias, e se estamos em crise, é porque o interesse imediato
dos que estão no poder se encontra em contradição com os valores que
fundamentam este mesmo poder. É-lhes necessário, por exemplo, incentivar o
consumo que os enriquece, em detrimento da moral que os legitima. Pela primeira
vez, o poder fundamenta-se na confusão e não na ordem. Daí a mentira
generalizada, de que a língua sofre.
A
permissividade atual autoriza que se diga tudo porque este tudo já não
significa nada. A palavra torna-se inofensiva por privação de sentido. A
escrita sofre a mesma privação nas suas formas normalizadas: publicidade,
jornalismo, best-sellers, que passam por escrita quando não o são.
O
objetivo da antiga censura consistia em tornar o adversário inofensivo,
privando-o dos seus meios de expressão; a nova - que denominei sensura -
esvazia a expressão para a tornar inofensiva, método mais radical e menos
visível.
Bernard Noel
Poeta e escritor, nascido na França em 1930
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