De Sartre
Os dias
mais recuados de sua infância, o dia em que dissera: "Serei livre", o
dia em que dissera: "Serei grande", apareciam-lhe, ainda agora, com
seu futuro particular, como um pequenino céu pessoal e bem redondo em cima
deles, e esse futuro era ele, ele tal e qual era agora, cansado e amadurecido.
Tinham
direitos sobre ele e através de todo aquele tempo decorrido mantinham suas
exigências, e ele tinha amiúde remorsos abafantes, porque o seu presente
negligente e cético era o velho futuro dos dias passados. Era a ele que eles
tinham esperado vinte anos, era dele, desse homem cansado, que uma criança dura
exigira a realização de suas esperanças; dependia dele que os juramentos
infantis permanecessem infantis para sempre, ou se tornassem os primeiros sinais
de um destino. Seu passado sofria sem cessar os retoques do presente; cada dia
vivido destruía um pouco mais os velhos sonhos de grandeza, e cada novo dia
tinha um novo futuro; de espera em espera, de futuro em futuro, a vida dele
deslizava docemente...em direção a quê?
Jean-Paul Sartre, filósofo, nascido na França
em 1905
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