O Perdão e a Promessa
Se não fôssemos
perdoados, eximidos das consequências daquilo que fizemos, a nossa capacidade
de agir ficaria por assim dizer limitada a um único ato do qual jamais nos
recuperaríamos; seríamos para sempre as vítimas das suas consequências, à
semelhança do aprendiz de feiticeiro que não dispunha da fórmula mágica para
desfazer o feitiço.
Se não nos
obrigássemos a cumprir as nossas promessas não seríamos capazes de conservar a
nossa identidade; estaríamos condenados a errar desamparados e desnorteados nas
trevas do coração de cada homem, enredados nas suas contradições e equívocos -
trevas que só a luz derramada na esfera pública pela presença de outros que
confirmam a identidade entre o que promete e o que cumpre poderia dissipar.
Ambas as faculdades, portanto, dependem da pluralidade; na solidão e no
isolamento, o perdão e a promessa não chegam a ter realidade: são no máximo um
papel que a pessoa encena para si mesma.
Hannah Arendt, folósofa, nascida na Alemanha, de origem judaica em 1906
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