A mentira nossa de cada dia
Interações superficiais nos consomem a maior parte do dia. Relações
desconexas no intuito de nos entreter e não pensar naquilo que somos. Frases
vazias e repetidas para nos ludibriar. Não nos fazer sentir os dias que morrem,
os sonhos que se apagam, os ideais esquecidos.
Por que é tão difícil encontrarmos pessoas abertas e dispostas a uma
conversa que desnude nossas almas? Por que sempre estamos buscando meios para
fugir de nós mesmos? Por que queremos ocultar nossas verdades?
Fazemos tantas coisas que nos parecem genuínas para corresponder a uma
construção social do que é felicidade. Mas desconhecemos quais são nossas reais
necessidades. Sexo, dinheiro, drogas, religião, crenças, costumes,
valores, que nos ditam como devemos estar satisfeitos.
O trabalho é a nossa obrigação para fuga de nós mesmos. O propósito da
nação, do ganho ou perda econômica, os assassinos e a violência, a política e a
corrupção, as armas, as guerras, as invenções, as drogas, o remédio, o livro, a
religião, o som alto, a beleza, o exótico, a loucura, toda nomenclatura
repetida e estereótipo, é para nos distrair.
Enxurradas de frases, consolos ou piadas… Queremos um arrastão de
olhares que nos faça sentir que existimos e somos importantes. Mas ao final estamos
exaustos e sozinhos. presos em nossos enredos mentais, onde tentamos articular
personagens que amamos e odiamos para um final que nos faça felizes.
Dentro de nós não há teorias, não há causa e efeito, só há desejo de
real companhia para extravasar a dor ou alegria. Só um apelo constante que nos
mostre um brilho radiante de quem nos quer bem. E que a vida passe a ter um
pouco mais de sentido real.
Sílvia Ambrósio, jornalista
e atriz, de Cachoeira Paulista