O Falso Conforto da Religião
O homem comum entende como sendo a sua
religião um sistema de doutrinas e promessas que, por um lado lhe explica os
enigmas deste mundo com uma perfeição invejável, e que por outro lhe garante
que uma Providência atenta cuidará da sua existência e o compensará, numa
futura existência, por qualquer falha nesta vida.
O homem comum só consegue imaginar essa
Providência sob a figura de um pai extremamente elevado, pois só alguém assim
conseguiria compreender as necessidades dos filhos dos homens ou enternecer-se
com as suas orações e aplacar-se com os sinais dos seus remorsos.
Tudo isto é tão manifestamente infantil,
tão incongruente com a realidade, que para aquele que manifeste uma atitude
amistosa para com a humanidade é penoso pensar que a grande maioria dos mortais
nunca será capaz de estar acima desta visão de vida.
É ainda mais humilhante descobrir como é
grande o número de pessoas, hoje em dia, que não podem deixar de perceber que
essa religião é insustentável, e, no entanto, tentam defendê-la sucessivamente,
numa série de lamentáveis actos retrógados.
Gostaríamos de pertencer ao número dos
crentes, para podermos advertir os filósofos que tentam preservar o Deus da
religião substituindo-o por um princípio impessoal, obscuro e abstrato, e
dizemos: «Não usarás o nome de Deus em vão!». Alguns dos grandes homens do
passado fizeram o mesmo, mas isso não serve de justificação para nós; sabemos
porque é que tiveram que o fazer.
Sigmund Freud
1856 – 1939
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Sábia Indecisão
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