sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018



Eterna procura

Aqui estou eu, me agarrando às sobras de um sonho, me enrolando nas dobras de minha eterna insensatez, soçobrando nas águas das lágrimas contidas. Aqui estou eu, a lamentar o que não perdi, porquanto não tive, a lutar contra o constante assédio dos anjos do Senhor.

Aqui estou eu, a me embrenhar pelos caminhos tortuosos da insanidade, a tentar me livrar dos espinhos da coroa do Salvador. E aqui estou eu, a me torturar por pensamentos tolos, mesmo porque vivo me perdendo em tolices.

Aqui estou eu, a cair em delírio, a não me encontrar nos emaranhados de minha solidão. Aqui estou eu me jogando contra os muros invisíveis de minha incapacidade de entender o óbvio. Aqui estou eu, a ouvir o eco de minha voz perdida nos vãos subterrâneos de dentro de mim.

Aqui estou eu, fragmentado, desconstruído a catar os pedaços espalhados pela minha incompletude, cego a tocar a alma paralisada. Aqui estou eu, perdido no mundo insano criado pela eterna procura do nada.

Jorge Nicoli
Lorenense, nascido em Guaratinguetá,

em 1945

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