Eterna procura
Aqui
estou eu, me agarrando às sobras de um sonho, me enrolando nas dobras de minha
eterna insensatez, soçobrando nas águas das lágrimas contidas. Aqui estou eu, a
lamentar o que não perdi, porquanto não tive, a lutar contra o constante
assédio dos anjos do Senhor.
Aqui
estou eu, a me embrenhar pelos caminhos tortuosos da insanidade, a tentar me
livrar dos espinhos da coroa do Salvador. E aqui estou eu, a me torturar por
pensamentos tolos, mesmo porque vivo me perdendo em tolices.
Aqui
estou eu, a cair em delírio, a não me encontrar nos emaranhados de minha
solidão. Aqui estou eu me jogando contra os muros invisíveis de minha
incapacidade de entender o óbvio. Aqui estou eu, a ouvir o eco de minha voz
perdida nos vãos subterrâneos de dentro de mim.
Aqui
estou eu, fragmentado, desconstruído a catar os pedaços espalhados pela minha
incompletude, cego a tocar a alma paralisada. Aqui estou eu, perdido no mundo
insano criado pela eterna procura do nada.
Jorge Nicoli
Lorenense, nascido em
Guaratinguetá,
em 1945
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