sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Na escuridão da noite

É noite. Sinto que é noite... Dizia Drummond em seu poema, Passagem da Noite. A noite sempre foi um dos motes preferidos dos poetas insones, provavelmente porque o manto da sua escuridão acoberta a melancolia da solidão, se transforma na morada dos mistérios e desperta, porque não, o erotismo.

Mas por que a noite é escura? Ora, dirá o amável leitor, porque o sol está escondido do outro lado do globo terrestre, onde é dia. Não, na verdade. Em 1842, o físico austríaco Johann Christian Andreas Doppler descobriu que um observador estático percebe de forma diferente as frequências de ondas emitidas por uma fonte em movimento.  O Efeito Doppler é fácil de perceber em nossas barulhentas metrópoles.


Preste atenção ao som emitido pela sirene de um veículo, que passa velozmente por nós. O som será progressivamente mais agudo conforme se aproxima, porque a frequência da onda sonora fica maior e progressivamente mais grave quando se afasta, porque neste caso a frequência da onda sonora fica menor. Analogamente, as ondas luminosas emitidas pelas estrelas quando estas se afastam produzem um fenômeno conhecido por redshift (desvio para o vermelho), tornando as frequências menores, inibindo a maior parte de sua luminosidade.

O nosso céu noturno (assim como o diurno) esta pontilhado por trilhões de estrelas, que se mantivessem estáticas em relação ao nosso planeta, estariam nos banhando por uma quantidade tal de luminosidade que nos cegaria. Desta forma concluímos que as estrelas do nosso céu estão se afastando, porque o nosso universo, provavelmente, esta em expansão.   

A noite é escura, por mais paradoxal que seja, porque pode ser que nossos horizontes (os cósmicos pelo menos) estão se ampliando...

José Roberto Lopes
Físico, nascido em São Paulo, radicado em Lorena



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