quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018


Quando nasci

Quando nasci, um cavaleiro que montava um belo cavalo branco me batizou. Meu pai, meus avós se embebedaram com vinho barato, cantaram de alegria, minha mãe chorou. No meio da algazarra meu padrinho disse alguma coisa. Não ouvi direito. Cresci, meu pai e meus avós se foram, minha mãe ficou, mas um dia também se foi. Pouco fiquei só, vieram companheiras e filhos, amigos e desafetos
.
Vez ou outra lembro de meu padrinho, mas não do que disse, neste momento penso que era um conselho.. Não sei. Uma advertência. Quem sabe? Uma missão destinada a mim. Pode ser. Diversas vezes tentei falar com ele, só que nunca obtive nenhuma resposta. Assim vou vivendo, um pouco sem rumo, disperso, sem muito cuidado com isso ou aquilo. Sem olhar para trás e pouco olhando para a frente, caminho me perdendo nas paixões improváveis e me encontrando em afagos efêmeros. Me guiando pelo instinto, me apoiando em lampejos de lucidez. Caminho, tropeçando nos seixos, sustentando nos eixos invisíveis.

Vivo sem saber bem o porque, mas tendo como consolo a esperança de que meu padrinho volte para dizer o que faço com as coisas que tenho nas mão.

Jorge Nicoli
Lorenense, nascido em Guaratinguetá em 1945





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