quarta-feira, 14 de março de 2018


Mandar é Respirar

Mandar é respirar, não é desta opinião? E até os mais deserdados chegam a respirar. O último na escala social tem ainda o cônjuge ou o filho. Se é celibatário, um cão. O essencial, em resumo, é uma pessoa poder zangar-se sem que outrem tenha o direito de responder. “Ao pai não se responde”, conhece a fórmula?  Em certo sentido, ela é singular.


A quem se responderia neste mundo senão a quem se ama? Por outro lado, ela é convincente. É preciso que alguém tenha a última palavra. Senão, a toda a razão pode opor-se outra: nunca mais se acabava.  A força, pelo contrário, resolve tudo. Levou tempo, mas conseguimos compreendê-lo.


Por exemplo, deve tê-lo notado, a nossa velha Europa filosofa, enfim, da melhor maneira. Já não dizemos, como nos tempos ingénuos: “Eu penso assim. Quais são as suas objeções?” Tornamo-nos lúcidos. Substituímos o diálogo pelo comunicado.


Albert Camus, Escritor, novelista, ensaísta, compositor e filósofo francês, nascido na Argélia em 1913 


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