Mandar é Respirar
Mandar é respirar,
não é desta opinião? E até os mais deserdados chegam a respirar. O último na
escala social tem ainda o cônjuge ou o filho. Se é celibatário, um cão. O
essencial, em resumo, é uma pessoa poder zangar-se sem que outrem tenha o
direito de responder. “Ao pai não se responde”, conhece a fórmula? Em certo sentido, ela é singular.
A quem se responderia
neste mundo senão a quem se ama? Por outro lado, ela é convincente. É preciso
que alguém tenha a última palavra. Senão, a toda a razão pode opor-se outra:
nunca mais se acabava. A força, pelo
contrário, resolve tudo. Levou tempo, mas conseguimos compreendê-lo.
Por exemplo, deve
tê-lo notado, a nossa velha Europa filosofa, enfim, da melhor maneira. Já não
dizemos, como nos tempos ingénuos: “Eu penso assim. Quais são as suas objeções?”
Tornamo-nos lúcidos. Substituímos o diálogo pelo comunicado.
Albert Camus, Escritor, novelista, ensaísta,
compositor e filósofo francês, nascido na Argélia em 1913
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