1º de abril
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O prego naquela parede nua
Para que serve aquele prego naquela
parede nua? Não sei, aliás nem sei o que estava ali dependurado. Uma imagem de
Jorge? Acho que não, pois nunca tive uma imagem de Jorge. Sinto que é essa a
razão dele ter se afastado de mim. Pode ser que aquele prego tenha servido para
eu dependurar um quadro de natureza morta. Impossível, não gosto de quadro de
natureza morta, Muito óbvio. A obviedade me incomoda.
Aquele prego naquela parede pode ter
servido para sustentar um crucifixo. Mas como poderia dependurar um crucifixo
se nunca tive um? Recuso a idéia de ser responsável pela morte de Cristo, como
não aceito seu sacrifício em meu nome. Não O autorizei a morrer por mim. Uma
vaga lembrança perpassa a minha cabeça: aquele prego naquela parede serviu como
suporte para a foto do casamento de meus pais. Já revirei a casa toda e não a
encontrei. Nem sei se um di tive uma foto da cerimônia de casamento deles. E
por que teria?
O quadro de minha primeira comunhão?
Até seria um momento a ser eternizado. Só que não fiz a primeira comunhão e por
razão que desconheço, afinal fui um exemplar aluno de catecismo. Mas o certo é
que não fiz, Depois não me preocupei mais com isso, mesmo porque eu e a igreja
nos distanciamos. Incompatibilidade de ideais.
Lembranças vãs. Aquele prego
solitário naquela parede nua, não está ali por acaso, deve ter servido para
dependura um quadro, uma foto, um enfeite. Sei lá. Posso mandar colocar uma
linda moldura numa foto minha e ali dependurar. Mas que foto? Aquela de quando
menino que sonhava em correr pelos campos de futebol? Ou aquela de quando jovem
pensava em namorar aquela menina que nunca me dirigiu o olhar? Talvez a foto do
pai orgulhoso ou do avô babão? Acho que não. O narciso que habita em mim não
gostaria de ver esta imagem.
Parece que o mistério daquele prego
naquela parede nua não será desvendado, como não será usado, pelo menos, por
enquanto. Um dia, quem sabe, o use para dependurar uma coroa de flores.
Jorge Nicoli
(Publicado em
12/1/2018)
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