Amigo Verdadeiro
Desalentado
com a impossibilidade de ter namorada, decidi cometer suicídio. Pensei na
melhor maneira para a execução
deste ato extremo. Saltar da minha
janela, opção logo descartada, pois correria
o risco de não concretizar o intento e ainda, quebrar costelas, pernas, braços,
sofrer escoriações e internação nada
agradável. Como a agravante, a vergonha de ter sobrevivido. Nada mais desonroso
que suicídio não concretizado. Arma de fogo nem pensar, incompetente que sou em
manuseá-la. Cortar os pulsos poderia ser a solução, só que com muita sujeira.
Não cogitei o veneno que pode anteceder uma agonia desnecessária.
Contei
minha intenção a um amigo que, prontamente, deu a solução. Uma viga em sua
casa, onde já está dependurada uma corda resistente e mais o banquinho. Como
não poderia ser diferente, me emocionei com essa prova de profunda amizade.
Cada vez mais rara nestes dias de incompreensão política e social. Acertamos para que tudo acontecesse na
sexta-feira santa que entendia ser uma ocasião adequada.
Quando
me preparava psicologicamente para poder partir, lembrei que minha neta disse, certo dia, que se parecia
comigo. Ela é linda. Olhei no espelho e vi que não sou tão feio que não pudesse
atrair a atenção de uma bela mulher. Desisti da ideia do suicídio, não sem
agradecer sensibilizado a prova de
amizade demonstrada. Ainda existem amigos verdadeiros.
Jorge Nicoli
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