Um pouco de Lacan
Eu
chamo sintoma tudo aquilo que vem do real. E o real tudo aquilo que não
vai bem, que não funciona, que se opõe à vida do homem ao afrontamento de sua
personalidade.
O
real volta sempre ao mesmo lugar. Você sempre encontrará lá, com os mesmos
semblantes.
Por
mais que os cientistas digam que nada é impossível no real. É preciso ter
um grande topete para afirmar coisas desse gênero, ou então, como eu suspeito,
a total ignorância do que se faz e diz.
O
real e o impossível são antitéticos, eles não podem caminhar juntos. A
análise empurra o sujeito para o impossível, ela lhe sugere considerar o
mundo como ele é realmente, isto é, imaginário, sem significação.
Enquanto
que o real, como um pássaro voraz, só faz se alimentar de coisas sensatas, de
ações que têm sentido. Ouve-se repetir que é preciso dar um sentido a isso e a
aquilo, a seus próprios pensamentos, a suas próprias aspirações, aos desejos,
ao sexo, à vida.
Mas
da vida não sabemos nada de nada. Os sábios perdem o fôlego a nos
explicar. Meu medo é que por seus erros, o real, essa coisa monstruosa que
não existe, acabe por conseguir, por levar a melhor.
A
ciência é substituída pela religião, e ela é de outra maneira mais despótica,
obtusa e obscurantista. Há um deus-átomo, um deus-espaço, etc. Se a
ciência ganha ou a religião, a psicanálise está acabada.
Jacques
Lacan
1901/1981
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Cultural
José
Roberto Lopes
Cantor
e músico