Conversar é perigoso, dizem os donos do poder II
Quantas vezes parecemos conversar, mas isso não ocorre. Conversações
estranhas, porque sem diálogo, aparecem quando numa festa, num encontro casual,
ou na escola, no trabalho, ou mesmo em casa, contamos sobre um filme que vimos.
A pessoa a quem nos dirigimos, quem deveria conversar sobre o que lhe
dizemos, recorre imediatamente a outro filme que ela viu ou diz não gostar de
cinema.
Fazemos isso e assim nem conversamos sobre o filme assistido por quem
narra o fato, nem o visto por quem o ouve. Perdemos a capacidade de prestar
atenção no que foi dito.
A capacidade de escutar está em extinção. Se usarmos outro exemplo
perceberemos o fenômeno de modo ainda mais claro: quando alguém fala de seus
problemas, o outro, aquele que deveria ouvir, sempre comparece com seus
exemplos interrompendo a atenção necessária à exposição do primeiro, quando não
chega a dizer “não quero ouvir, pois isso não me acrescentará nada”, como se
conversar – o que fazemos de mais humano - fosse uma troca mercantil de lucros
e ganhos. Ou ainda, interrompe com um “eu sei” prepotente, inviabilizando toda
descoberta.
Em outras palavras, nos tornamos – em graus variados - incomunicáveis.
Em tempos de comunicação de massas, numa sociedade estimulada pela mídia que
nem sempre cumpre com seu papel de comunicar, esta se tornou uma questão essencial.
Márcia Tiburi
Artista plástica, professora de filosofia, nascida no Rio Grande do Sul
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SOPA
DE CEBOLA
Boletim
de Arte e Cultura
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