Vejo,
logo Existo
Sou um visual. O que na memória
trago, trago-o visualmente, se suscetível é de assim ser trazido.
Mesmo ao querer evocar em mim uma
qualquer voz, um perfume qualquer, não evito que antes que ela ou ele me
vislumbre no horizonte do espírito, me apareça à visão rememorativa a pessoa
que fala, a coisa donde o perfume partiu.
Não dou isto por absolutamente certo;
pode ser que, radicada em mim de vez a persuasão de que sou um visual, no lugar
final do sofisma que é a escuridão íntima do ser me fosse desde então
impossível evitar que a idéia de que sou um visual não levantasse imediatamente
uma imagem falsamente inspiradora.
Seja como for, o menos que sou, é um
visual predominantemente. Vejo, e vendo, vivo.
Fernando
Pessoa
1888
- 1935
=============================
SOPA DE CEBOLA
Boletim de Arte e Cultura
Nenhum comentário:
Postar um comentário