segunda-feira, 5 de setembro de 2016



A burrice como categoria moral

Na história a burrice aparece como uma categoria do pensamento marcada justamente pela ausência de raciocínio. Theodor Adorno percebeu que ela é uma categoria moral e a compara a uma paralisia.

Se o corpo é paralisado por um ferimento físico, o espírito o é pelo medo. A burrice, diz ele, é uma cicatriz que surge de uma inibição e que se transforma em repetição. É uma deformação relativa à capacidade de pensar, de criar – quem repete pode nunca inventar nada –, mas também de agir daquele que teve experiências tão negativas a ponto de se tornar burro.

Não é burro apenas quem pensa errado, mas quem pensa com inibição. Quem age de modo inibitório também. O medo seria o seu moto inevitável.

A idéia de que a burrice é uma categoria moral parece estar em vigência no Brasil de modo explícito. A ausência de debate, de espírito crítico, o culto da ignorância ou a política do xingamento, a aceitação de qualquer idéia como “politicamente correta” ou “incorreta” – para muitos o correto hoje é ser incorreto, mas raramente alguém se pergunta sobre isso –, sem a verificação da pertinência de cada idéia em si mesma e em sua conexão com o que está ao redor, são traços visíveis da cultura no cotidiano e nos meios de comunicação.

Bem como no debate acadêmico de cunho fundamentalista, aquele que se aferra a idéias prontas ou simplesmente crê na exegese dos textos ou na mera aplicação dos métodos, como encontro da verdade.

Nesse sentido, seria bom rever a história do conhecimento em relação às idéias prontas que também são falhas, mas seria melhor ainda começar por refazer a história pensando em como não repeti-la.

Márcia Tiburi
Excerto de
Paradoxo da Burrice

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