A burrice como categoria moral
Na história a burrice
aparece como uma categoria do pensamento marcada justamente pela ausência de
raciocínio. Theodor Adorno percebeu que ela é uma categoria moral e a compara a
uma paralisia.
Se o corpo é paralisado
por um ferimento físico, o espírito o é pelo medo. A burrice, diz ele, é uma
cicatriz que surge de uma inibição e que se transforma em repetição. É uma
deformação relativa à capacidade de pensar, de criar – quem repete pode nunca
inventar nada –, mas também de agir daquele que teve experiências tão negativas
a ponto de se tornar burro.
Não é burro apenas quem
pensa errado, mas quem pensa com inibição. Quem age de modo inibitório também.
O medo seria o seu moto inevitável.
A idéia de que a burrice
é uma categoria moral parece estar em vigência no Brasil de modo explícito. A
ausência de debate, de espírito crítico, o culto da ignorância ou a política do
xingamento, a aceitação de qualquer idéia como “politicamente correta” ou
“incorreta” – para muitos o correto hoje é ser incorreto, mas raramente alguém
se pergunta sobre isso –, sem a verificação da pertinência de cada idéia em si
mesma e em sua conexão com o que está ao redor, são traços visíveis da cultura
no cotidiano e nos meios de comunicação.
Bem como no debate
acadêmico de cunho fundamentalista, aquele que se aferra a idéias prontas ou
simplesmente crê na exegese dos textos ou na mera aplicação dos métodos, como
encontro da verdade.
Nesse sentido, seria bom
rever a história do conhecimento em relação às idéias prontas que também são
falhas, mas seria melhor ainda começar por refazer a história pensando em como
não repeti-la.
Márcia Tiburi
Excerto de
Paradoxo da Burrice
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SOPA
DE CEBOLA
Boletim
de Arte e Cultura
4
Anos Compartilhando Inteligência
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