Sou já meus pensamentos mas não eu
Tornei-me uma
figura de livro, uma vida lida. O que sinto é (sem que eu queira) sentido para
se escrever que se sentiu. O que penso está logo em palavras, misturado com
imagens que o desfazem, aberto em ritmos que são outra coisa qualquer. De tanto
recompor-me destruí-me. De tanto pensar-me, sou já meus pensamentos mas não eu.
Sondei-me e deixei cair a sonda; vivo a pensar se sou fundo ou não, sem outra
sonda agora senão o olhar que me mostra, claro a negro no espelho do poço alto,
meu próprio rosto que me contempla contemplá-lo.
Fernando Pessoa
1888 - 1935
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SOPA DE CEBOLA
Boletim de Arte e Cultura
4 Anos Compartilhando Inteligência
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