sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Se Mata em Defesa da Honra

Não sei porque estive pensando numa doença terrível chamada ciúmes que, alguns ingênuos, relativizam com o doce nome de “tempero do amor”. Um tempero amargo, indigesto, na maioria das vezes.
  E me vem a lembrança de três episódios envolvendo gente famosa, três homens que assassinaram  suas mulheres, um deles, o play boy Doca Street que  matou a amante Ângela Diniz, em dezembro de 1976, o  outro cantor Lindomar Castilho que, em março de 1981, matou sua segunda esposa Eliane Grammont e o mais recente, em agosto de 2000, o redator chefe do Estadão, Antônio Pimenta Neves, matou sua namorada Sandra Gomide. Todos os três mataram em nome da honra. Um, porque a jovem era desinibida e independente, o outro, porque fora traído, e o outro, porque a namorada era uma ascensorista social.

As vítimas quase se transformando em rés, pelo menos diante das argumentações dos advogados. Nenhuma delas era recatada e nem do lar, assim os homens adquiriram o direito de fazer justiça, em defesa da honra do macho.

Ângela, segundo uma testemunha, humilhava Doca que a amava muito – isto lhe daria o direito de eliminá-la -, já o canto que  amava Eliane e não suportaria vê-la com outro – motivo plausível para assassiná-la – e o jornalista não suportava a idéia de ser trampolim para a namorada de 32 anos  – ele, com 63, não merecia, por isso nada a fazer senão matá-la.

Na realidade, todos os três crimes tiveram uma única motivação, ciúmes. O sentimento de posse, a incapacidade de entender que, na vida, há perdas, e, sobretudo, a negação de si, de seu valor. Isto leva à destruição daquilo que se “ama”, a insuportável idéia de que um outro possa ter a posse daquilo que se julga ser seu.

Melhor a eliminação do outro, para não sofrer e sempre haverá um advogado que usará o batido, porém eficaz argumento da legítima defesa da honra, sob forte impacto emocional. Ou coisa que o valha.


Jorge Nicoli

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