Gosto das Belas Coisas Claras e
Simples
Para quê alcançar os astros?!
Para quê?! Para os desfolhar, por exemplo, como grandes flores de luz! Vê-los,
vê-os toda a gente.
De que serve então ser poeta se
se é igual à outra gente toda, ao rebanho?... Eu não peço à Vida nada que ela
me não tivesse prometido, e detesto-a e desdenho-a porque não soube cumprir nem
uma das suas promessas em que, ingenuamente, acreditei, porque me mentiu,
porque me traiu sempre.
Mas não choro, não, como os
portugueses chorões, não tenho nada de Jeremias, pareço-me antes com Job,
revoltado, gritando imprecações no seu monte de estrume.
Não gosto de lágrimas, de fados
nem de guitarras, gosto das belas coisas claras e simples, das grandes
ternuras perfeitas, das doces compreensões silenciosas, gosto de tudo, enfim,
onde encontro um pouco de Beleza e de Verdade, de tudo menos do bípede humano,
em geral, é claro, porque há ainda no mundo, graças a Deus, almas-astros onde
eu gosto de me refletir, almas de sinceridade e de pureza sobre as quais adoro
debruçar a minha.
Florbela Espanca
Poetisa, nascida em
1894, em Portugal
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Sábia Indecisão
Muito Mais Que Um Grupo de Teatro
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