A Culpa é
Sentirmo-nos Culpados
A culpa é sentirmo-nos
culpados, e não um resultado dos crimes cometidos; o ser inocente é alegre,
feliz, e não deixa, seja em que caso for, que os acontecimentos perturbem a sua
calma e a sua paz.
É por isso que considero
que a justiça erra quando executa os menos em vez dos mais culpados, quer dizer
quando executa os criminosos e não aqueles que sentem que têm no coração a
culpa do mundo.
Isso equivale a executar
crianças por ações que cometeram no escuro quando ignoravam tudo acerca do
escuro e das reações que provoca no funcionamento dos corpos.
Uma vez que são culpados
apenas os que se sentem culpados, seria necessário suprimir a justiça
distribuitiva de castigos e substituí-la por uma justiça executora, porque ao
fim de algum tempo aquele que a culpa mortifica já só aspira a morrer, a morrer
pelas faltas do mundo como pelas suas próprias faltas, e pode sem a mínima
hesitação, sim, sem a menor angústia de morte, uma vez que nada tem a esperar
agora que tocou finalmente o fundo do mundo, pedir à justiça a sua pena de
morte - e nunca outra cabeça se curvará mais graciosamente do que a sua por
baixo da guilhotina, nunca colar algum terá acariciado a garganta de uma mulher
com tanta delicadeza como a da corda ao aflorar-lhe o pescoço.
Stig Dagerman,
Escritor e jornalista
nascido na Suécia em
1923
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