quinta-feira, 13 de abril de 2017



A Culpa é

Sentirmo-nos Culpados



A culpa é sentirmo-nos culpados, e não um resultado dos crimes cometidos; o ser inocente é alegre, feliz, e não deixa, seja em que caso for, que os acontecimentos perturbem a sua calma e a sua paz.


É por isso que considero que a justiça erra quando executa os menos em vez dos mais culpados, quer dizer quando executa os criminosos e não aqueles que sentem que têm no coração a culpa do mundo.


Isso equivale a executar crianças por ações que cometeram no escuro quando ignoravam tudo acerca do escuro e das reações que provoca no funcionamento dos corpos.


Uma vez que são culpados apenas os que se sentem culpados, seria necessário suprimir a justiça distribuitiva de castigos e substituí-la por uma justiça executora, porque ao fim de algum tempo aquele que a culpa mortifica já só aspira a morrer, a morrer pelas faltas do mundo como pelas suas próprias faltas, e pode sem a mínima hesitação, sim, sem a menor angústia de morte, uma vez que nada tem a esperar agora que tocou finalmente o fundo do mundo, pedir à justiça a sua pena de morte - e nunca outra cabeça se curvará mais graciosamente do que a sua por baixo da guilhotina, nunca colar algum terá acariciado a garganta de uma mulher com tanta delicadeza como a da corda ao aflorar-lhe o pescoço. 


Stig Dagerman,
Escritor e jornalista
nascido na Suécia em 1923


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