domingo, 30 de abril de 2017



O Gosto pela Simplicidade



Cansado às vezes do artificialismo que domina hoje em todos os gêneros, enfadado com os chistes, os lances espirituosos, com as troças e com todo esse espírito que se quer colocar nas menores coisas, digo comigo mesmo: se eu pudesse encontrar um homem que não fosse espirituoso, com quem não fosse preciso sê-lo, um homem ingênuo e modesto, que falasse somente para se fazer entender e para exprimir os sentimentos do seu coração, um homem que só tivesse a razão e um pouco de naturalidade: com que ardor eu correria para descansar na sua conversa ao invés do jargão e dos epigramas do resto dos homens!

Como é que acontece perder-se o gosto pela simplicidade a ponto de não mais se perceber que ele foi perdido? Não há virtudes nem prazeres que dela não retirem encantos e as suas graças mais tocantes. Existe alguma coisa de grande ou de amável quando dela a gente se afasta?

Do momento que ela não é reconhecida, não é falsa a grandeza, o espírito desprezível, a razão enganadora e todos os defeitos mais hediondos? 

Luc de Clapiers Vauvenargues
Escritor, nascido na França em 1715

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