sexta-feira, 23 de junho de 2017




Arrumar os Mortos


É preciso que compreendam: nós não temos competência para arrumarmos os mortos no lugar do eterno.

Os nossos defuntos desconhecem a sua condição definitiva: desobedientes, invadem-nos o quotidiano, imiscuem-se do território onde a vida deveria ditar sua exclusiva lei.

A mais séria consequência desta promiscuidade é que a própria morte, assim desrespeitada pelos seus inquilinos, perde o fascínio da ausência total.

A morte deixa de ser a mais incurável e absoluta diferença entre os seres.

Mia Couto
escritor e biólogo,
nascido em Moçambique, em 1955


a arte africana

http://www.portaldarte.com.br/28africana/mix-escultura-pintura-africana-600.jpg

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