Milágrimas
Em caso de dor, ponha gelo, mude o corte de cabelo, mude como o modelo
vá ao cinema, dê um sorriso, ainda que amarelo,
esqueça seu cotovelo se amargo
for já ter sido, troque já esse vestido, troque o padrão do tecido
aia do sério, deixe os critérios, siga todos
os sentidos e faça fazer sentido.
A cada mil lágrimas sai um milagre caso de tristeza,
vire a mesa, coma só a sobremesa, coma somente a cereja, jogue para cima, faça cena, cante as rimas de um
poema. Sofra apenas, viva apenas sendo só fissura, ou loucura, quem sabe casando cura
e ninguém
sabe o que procura;
Faça uma novena, reze um terço, caia fora do contexto invente seu endereço e a cada milágrimas
sai um milagre, mas se, apesar de banal,
chorar for inevitável sinta o gosto do sal, do sal, do sal, sinta o gosto do sal
gota a gota, uma a uma duas, três, dez, cem, mil lágrimas. Sinta o milagre
a cada mil lágrimas sai um milagre a cada milagrimas.
chorar for inevitável sinta o gosto do sal, do sal, do sal, sinta o gosto do sal
gota a gota, uma a uma duas, três, dez, cem, mil lágrimas. Sinta o milagre
a cada mil lágrimas sai um milagre a cada milagrimas.
Alice Ruiz
Nascida em Curitiba, 1946
poetisa e tradutora. Foi casada com Paulo Leminski
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