Falar de si Próprio
Como o perigo de
desagradar provém principalmente da dificuldade em avaliar quais as coisas que
se notam e quais as que não são notadas, pelo menos por prudência nunca deveria
a gente falar de si mesmo, pois esse é um tema em que seguramente a nossa visão
e a alheia não coincidem nunca.
Ao mau costume de
falar de si mesmo e dos próprios defeitos, cumpre acrescentar, como formando
bloco com o mesmo, esse outro hábito de denunciar nos caracteres alheios
defeitos análogos aos nossos.
E constantemente
estamos a falar nos referidos defeitos, como se fora uma espécie de rodeio para
falar de nós mesmos, em que se juntam o prazer de confessar e o de absolvermo-nos.
Marcel Proust
Escritor, nascido na França em 1871
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