Pasolini na
Praia de Ostia
Montado o
cenário da sua morte (paisagístico
demais para
o
seu gosto proletário), todos os ingressos foram vendidos
com
tanta rapidez que
quase
lamentaram um homem não possa morrer duas vezes:
a
2ª sessão também seria um sucesso!
É
que apressaram-se ao show, sedentos de entretenimento
e
vingança,
não
só todos os barões da mídia e da elite financeira mas
também
é claro o clero e a classe média meio fascistas do dedo
moralizador
sempre em riste!
(e
você sabe, Pasolini, meio fascismo é pior que fascismo)
E
quem se fartou à indigestão, chupando a delícia
da
cena com a sua boca esculpida à hipocrisia, foi
a
pior política, assentada à direita e à esquerda na sua poltrona tão ricamente
cerzida
como são cerzidas ricamente as suas cintas
e
lapelas, as suas negociatas.
Mas
o que doeu mesmo foi saber que a morte lhe veio
pelas
mãos de um ator tão canastrão: protótipo mal
resolvido
de garoto de programa a oferecer-lhe o seu
pau-prótese
de cinema americano espetaculoso e pobre,
indigno
da virilidade homossexual
que
você esfregava na cara das bondades de vitrine, Pasolini.
(antes
dos créditos finais, a imagem que fica: movimento vão
da
ciranda do jovem com seu passo-passarinho . . . o que
confunde,
o que
põe
em risco toda a engrenagem da técnica - brincadeira
fora
de hora, estéril e estranha, como um dedo curvado
girando
no cu. Como um teorema que não fecha
Leandro Veiga Dainese
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