quinta-feira, 7 de dezembro de 2017





Pasolini na Praia de Ostia

Montado o cenário da sua morte (paisagístico demais para
o seu gosto proletário), todos os ingressos foram vendidos
com tanta rapidez que
quase lamentaram um homem não possa morrer duas vezes:
a 2ª sessão também seria um sucesso!


É que apressaram-se ao show, sedentos de entretenimento
e vingança,
não só todos os barões da mídia e da elite financeira mas
também é claro o clero e a classe média meio fascistas do dedo
moralizador sempre em riste!


(e você sabe, Pasolini, meio fascismo é pior que fascismo)


E quem se fartou à indigestão, chupando a delícia
da cena com a sua boca esculpida à hipocrisia, foi
a pior política, assentada à direita e à esquerda na sua poltrona tão ricamente
cerzida como são cerzidas ricamente as suas cintas
e lapelas, as suas negociatas.


Mas o que doeu mesmo foi saber que a morte lhe veio
pelas mãos de um ator tão canastrão: protótipo mal
resolvido de garoto de programa a oferecer-lhe o seu
pau-prótese de cinema americano espetaculoso e pobre,
indigno da virilidade homossexual


que você esfregava na cara das bondades de vitrine, Pasolini.


(antes dos créditos finais, a imagem que fica: movimento vão
da ciranda do jovem com seu passo-passarinho . . . o que
confunde, o que
põe em risco toda a engrenagem da técnica - brincadeira
fora de hora, estéril e estranha, como um dedo curvado


girando no cu. Como um teorema que não fecha

Leandro Veiga Dainese


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