Ceticismo desencantado
Se a diferença entre o intelectual e o artista, cientista, técnico,
filósofo, jurista encontra-se no fato que o intelectual é um desses quando ele
intervém no espaço público, a expressão “silêncio dos intelectuais” pareceria
contraditória.
Mas se há silêncio, se não há intelectuais, convém indagar porque. A
primeira dessas causas, certamente, é, como diz um autor, “o amargo abandono
das utopias revolucionárias, a rejeição da política e um ceticismo
desencantado”.
Essa atitude se dá sob os efeitos do totalitarismo dos países ditos
comunistas, do fracasso da Glasnost na União Soviética, e do recuo da
social-democracia com a adoção da chamada Terceira Via, ou “o capitalismo
acrescido de valores socialistas”, como diz o Partido Socialista Inglês.
Assim, desaparece o horizonte histórico do futuro, o presente se fecha
sobre si mesmo, a ordem vigente aparece auto-legitimada e justificada porque
nada parece contradizê-la ou a elas se opor, e os ideólogos podem comprazer-se
falando do Fim da História.
O retraimento do engajamento ou o silêncio é aqui o signo de uma
ausência mais profunda. A ausência de um pensamento capaz de desvendar e
interpretar as contradições que movem o presente.
(extraído
de Silêncio Forçado)
Marilena Chaui
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