A Culpa é Sentirmo-nos Culpados
A culpa é sentirmo-nos culpados, e não um
resultado dos crimes cometidos; o ser inocente é alegre, feliz, e não deixa,
seja em que caso for, que os acontecimentos perturbem a sua calma e a sua paz.
É por isso que considero que a justiça erra
quando executa os menos em vez dos mais culpados, quer dizer quando executa os
criminosos e não aqueles que sentem que têm no coração a culpa do mundo.
Isso equivale a executar crianças por ações
que cometeram no escuro quando ignoravam tudo acerca do escuro e das reações
que provoca no funcionamento dos corpos.
Uma vez que são culpados apenas os que se
sentem culpados, seria necessário suprimir a justiça distribuitiva de castigos
e substituí-la por uma justiça executora, porque ao fim de algum tempo aquele
que a culpa mortifica já só aspira a morrer, a morrer pelas faltas do mundo
como pelas suas próprias faltas, e pode sem a mínima hesitação, sim, sem a
menor angústia de morte, uma vez que nada tem a esperar agora que tocou
finalmente o fundo do mundo, pedir à justiça a sua pena de morte - e nunca
outra cabeça se curvará mais graciosamente do que a sua por baixo da
guilhotina, nunca colar algum terá acariciado a garganta de uma mulher com
tanta delicadeza como a da corda ao aflorar-lhe o pescoço.
Stig Dagerman
Stig Dagerman
1923 –
1954
Escritor
e jornalista nascido na Suécia
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