Inquietude
Sentado no banco feito de sucata da espaçonave, bebo o sangue do mártir sem causa, entre um gole e outro, a menina de lábios vermelhos me beija, deixando meu rosto marcado pelo seu baton. Acariciando meu peito, diz qualquer coisa sobre o amor.
Fecho os olhos e me deixo levar pelos pensamentos mais obscenos. Um escorpião escarlate passeia pelos meus braços e uma cascavel anuncia a hora da Ave Maria.
O velho relógio de parede, pendurado, no galho de um ipê roxo marca as mesmas horas de ontem. Parece que o tempo estagnou na modorrenta tarde deste dia, que aparenta ser segunda-feira, mas poderia ser terça ou quarta. Pouco importa o tempo.
Como pouco importa a mim as coisas do amor que não sinto. Talvez só importa saber das minhas eternas inquietudes, que não me deixam nem quando adormeço nos braços da menina que tinha a boca pintada de vermelho.
Jorge Nicoli
------------------------------------------------------------------------------------------------
Nenhum comentário:
Postar um comentário