Metamorfose Ambulante*
O silêncio sepulcral só é quebrado pelo som minimalista do soluço da criança trajando verde e amarelo e há marcas de bala e sangue coagulado no terno de linho branco do homem de bigode.
A morte, acompanhada de anjos barrocos, faz sua ronda diária e a ave noturna tudo observa, pousada na estátua do desertor desconhecido.
A menina loira se banha num poço contaminado pelos galhos de uma roseira cortada por um garoto apaixonado.
Há um cheiro ocre no ar e há um menino correndo da polícia. Há um velho escrevendo poema de amor e há uma ninfeta seduzindo a serpente;
Ratos e baratas desfilam por sobre os restos de carne apodrecida, enquanto o pastor fala das coisas do céu e do inferno e Jorge dá uma pausa na sua eterna luta contra o dragão da maldade.
No meu quarto vazio, o vazio se aloja no canto que sempre foi seu, e eu sinto o encanto se perder no meio das brumas das minhas constantes metamorfoses.
* (música de Raul Seixas)
Jorge Nicoli
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