O Cerne da Escrita e da Leitura
Não se é escritor por se ter preferido
dizer certas coisas, mas por se ter preferido dizê-las duma certa maneira. E o
estilo faz, evidentemente, o valor da prosa. Mas deve passar despercebido. Uma
vez que as palavras são transparentes e que o olhar as atravessa, seria absurdo
meter entre elas vidros despolidos. Aqui, a beleza é apenas uma força doce e
insensível.
Num quadro, brilha antes de mais nada; num livro, esconde-se, age por persuasão como o encanto duma voz ou dum rosto, não obriga, faz curvar sem que se dê por isso e pensa-se ceder aos argumentos quando afinal se é solicitado por um encanto imperceptível.
A cerimônia da missa não é a fé, ela dispõe
a isso; a harmonia das palavras, a sua beleza, o equilíbrio das frases,dispõem as
paixões do leitor sem que ele dê por isso, ordenam-nas como a missa, como a
música, como uma dança; se acaba por as considerar em si mesmas, perde o
sentido, apenas restam oscilações aborrecidas.
Jean-Paul Sartre
Nascido na França em
1905
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