Do Medo
Se bastasse falar do medo para superá-lo, já
estaríamos livres deste sentimento há muito tempo. É impossível viver sem ele.
Podemos dizer que o medo faz parte daquelas razões do coração desconhecidas da
razão que rege os pensamentos.
Sentimos medo, mas em uma sociedade que perde o
sentido dos sentimentos diariamente, o medo se torna mais um destes nomes para
uma diversidade de sensações inespecíficas. Como sentimento ele é intangível e,
em certo sentido, até intraduzível.
Melhor guardar o medo para falar de coisas sérias
do que inflacionar seu sentido e produzir histerias desnecessárias.
Se é difícil compreendê-lo, será muito difícil
superá-lo, deixar de ser sua vítima ou fazer dele um uso benéfico. Nossa
cultura, por exemplo, trata o medo como um defeito, como algo negativo.
Neste caso, ela deveria valorizar a coragem como
seu oposto. Mas não é bem assim. Se esquecemos, no entanto, que a coragem
precisa do medo para existir, podemos, ao assumir o medo como uma coisa
absoluta, tornarmo-nos covardes, ou, negando absolutamente o medo, tornarmo-nos
temerários.
Nem uma coisa nem outra ajuda a ultrapassar o medo.
Pode-se, assim, até renová-lo. Por isso, se o medo, em certa medida é até bom,
mas é ruim quando desmedido, do mesmo modo, superá-lo vale apenas em certa dose.
(Excerto de
A Forma mais Comum do Medo
é o Medo do Medo)
Márcia Tiburi
Artista plástica, professora de filosofia e escritora,
nascida em Vacaria, RS, em 1970
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