segunda-feira, 30 de outubro de 2017


Os Ombros Suportam o Mundo


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoludepuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.

E os olhos não choram.E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco. 
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.

Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. És todo certeza, já não sabes sofrer. E nada esperas de teus amigos. Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?

Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança.As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda.

Alguns, achando bárbaro o espetáculo ,
 prefeririam (os delicados) morrer.  Chegou um tempo em que não adianta morrer.Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistifica;

Carlos Drummond de Andrade

Que nasceu em 31 de outubro de 1902

Nenhum comentário:

Postar um comentário