Os
Ombros Suportam o Mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoludepuração. Tempo em
que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.E as mãos
tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco. Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
E o coração está seco. Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na
sombra teus olhos resplandecem enormes. És todo
certeza, já não sabes sofrer. E
nada esperas de teus amigos. Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais
que a mão de uma criança.As guerras, as fomes, as discussões dentro dos
edifícios provam apenas que a
vida prossegue e nem todos se
libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo ,
prefeririam
(os delicados) morrer. Chegou um tempo em que não adianta morrer.Chegou
um tempo em que a vida é uma ordem. A
vida apenas, sem mistifica;
Carlos Drummond de Andrade
Que
nasceu em 31 de outubro de 1902
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