Vertigem Civilizacional Desumana
O homem não pode manter-se humano a esta
velocidade, se viver como um autômato será aniquilado. A serenidade, uma certa
lentidão, é tão inseparável da vida do homem como a sucessão das estações é
inseparável das plantas, ou do nascimento das crianças.
Estamos no caminho mas não a caminhar, estamos num
veículo sobre o qual nos movemos incessantemente, como uma grande jangada ou
como essas cidades satélites que dizem que haverá.
E ninguém anda a passo de homem, por acaso algum de
nós caminha devagar? Mas a vertigem não está só no exterior, assimilá-mo-la na
nossa mente que não pára de emitir imagens, como se também fizesse zapping;
talvez a aceleração tenha chegado ao coração que já lateja num compasso de
urgência para que tudo passe rapidamente e não permaneça. Este destino comum é
a grande oportunidade, mas quem se atreve a saltar para fora?
Já nem sequer sabemos rezar porque perdemos o
silêncio e também o grito. Na vertigem tudo é temível e desaparece o
diálogo entre as pessoas.
O que nos dizemos são mais números do que palavras,
contém mais informação do que novidade. A perda do diálogo afoga o compromisso
que nasce entre as pessoas e que pode fazer do próprio medo um dinamismo que o
vença e que lhes outurgue uma maior liberdade. Mas o grave problema é que nesta
civilização doente não há só exploração e miséria, mas também uma correlativa
miséria espiritual.
A grande maioria não quer a liberdade, teme-a. O
medo é um sintoma do nosso tempo. A tal extremo que, se rasparmos um pouco a
superfície, poderemos verificar o pânico que está subjacente nas pessoas que
vivem sob a exigência do trabalho nas grandes cidades.
A exigência é tal que se vive automaticamente sem
que um sim ou um não tenha precedido os atos.
Ernesto Sábato
Ernesto Sábato
Ensaísta e romancista,
nascido na Argentina em 1911
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