quarta-feira, 25 de outubro de 2017


A Sensura


A nossa sociedade autoriza tudo o que não a incomoda. Se isto já não é plenamente verdade nos nossos dias, e se estamos em crise, é porque o interesse imediato dos que estão no poder se encontra em contradição com os valores que fundamentam este mesmo poder.
  

É-lhes necessário, por exemplo, incentivar o consumo que os enriquece, em detrimento da moral que os legitima. Pela primeira vez, o poder fundamenta-se na confusão e não na ordem.  Daí a mentira generalizada, de que a língua sofre.


A permissividade atual autoriza que se diga tudo porque este tudo já não significa nada. A palavra torna-se inofensiva por privação de sentido.


A escrita sofre a mesma privação nas suas formas normalizadas: publicidade, jornalismo, best-sellers, que passam por escrita quando não o são.


O objetivo da antiga censura consistia em tornar o adversário inofensivo, privando-o dos seus meios de expressão; a nova - que denominei sensura - esvazia a expressão para a tornar inofensiva, método mais radical e menos visível.


Bernard Noel
Escritor e poeta
nascido na França em 1930


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