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Teatro Protegidos por Deuses
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Ocupamos
espaços repletos de tempo num pedaço de Olimpo.
Entre
sonhos e atos sucessivos, somos seres querentes entre meninas e meninos com
desejos de luz, que sonham como anjos e que se levantam do chão para saírem de
seus corpos feitos fiapos de fumaça, que se dissipam leves de esperanças para
nos pregarem súbitas surpresas.
E depois
atentos se põem no aguardo das nossas falas, como se fossemos nós os deuses.
E os dias
correm em longos versos sem rimas num poema melódico e delicado, cuja métrica
subverte o campo das idéias num devaneio ilógico de imagens avessas; que
percorrem meses de insônias, que nos custam horas de ânimos, que nos impõe
magnânimos medos e nos põe à prova a nos desafiar os sentidos, que só a nós,
algum sentido faz.
E assim, nos permitem sentir o
mundo entre gritos, risos, cantos, lágrimas com as ilusões mais que impossíveis
e inimagináveis, como se fossemos nós os mágicos.
E a música vem, penetra os nossos
ossos, percorre sonora para vibrar em nossos músculos, num desejo de tocar as
fibras de nossas carnes, só para enfeitar a melodia de nossas almas.
A cor cora os corações por
pigmentos raros, pinta-nos as faces de maquiagem pouca e barata e tinge os
nossos egos em tons exuberantes, como se fossemos nós os belos.
Daí, somos feitos pais e mães e
irmãos e filhos... E somos ditos santos e mestres. E tornamo-nos contumazes,
crédulos e céticos, práticos e minuciosos, porém maiúsculos, de nossas
vontades.
E tornamo-nos fortes, veementes e
insistentes, incansáveis e brilhantes, sobretudo frágeis, reféns de nossas
emoções.
Somos de tudo um pouco do que
sempre ainda resta para dentro de nós.
Somos o resultado da soma de
seres diluídos entre os demais para sermos iguais. Para eles os anjos, talvez
venhamos a ser os seres iluminados, perdidos ao acaso entre breves lapsos de
memória; qu, um fragmento melódico de um breve diálogo... Ou, uma rima de um
verso corriqueiro e infantil... Ou, o som combinado à palavra ato... Ou, o
drama e a comédia, como se fossemos nós o Teatro; donde a ação cabe numa cena
simples, improvisada nessa mimese a que se chama vida, feita e refeita
cotidianamente para ser espetáculo!
E se assim acontecer certamente
terá valido a pena ficarmos juntos, espremidos entre pernas e coxias às
escuras, contritos em nossas orações e louvores a todos os santos e a todos os
deuses possíveis e cabíveis em todos nós.
E eu, como um sonhador dedicado
às minhas eternas manias, irei acender mais um incenso pelos cantos da caixa
escura que guarda os segredos das nossas ilusões e sonhos e desafios.
E eu, com o meu ‘Santo Benedito’
às mãos, estarei a orar pelo silêncio pelo templo das ações, em agradecimento
pela oportunidade de mais uma função.
Depois, vou tremer de medo ao teu
lado, sentir o tremor de tua pele que escapa pelo teu sorriso largo.
É um medo bom, um medo necessário
e prudente, um medo só para eu me sentir ainda mais seguro dentro do azul que
mira e acolhe os meus olhos à distância...
De mãos dadas com os nossos anjos
que agora já se aprontam para voar;
eu desejarei a todos com tamanha
veemência:
MERDA!
José Lima
ator
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