Corinthians, meu amor, 1978
A pequena história de um grupo
O ano era 1974, o mês
abril – ou maio – e um convite para dirigir um trabalho teatral que ilustraria
a matéria de português. A escola, o tradicional Colégio Nogueira da Gama, de
Guaratinguetá. O livro a ser adaptado era Senhora de José de Alencar. O resumo
feito pelos alunos e a montagem do espetáculo cabendo a nós, eu e o amigo Zé
Moacir. Na realidade, o convite era direcionado ao Moacir que já havia dirigido
Morte e Vida Severina, com um grupo de universitários e o amigo, solidário como
sempre, me levou para a aventura de adaptar um romance que eu mal conhecia e já
achava chato. Mas usando a criatividade conseguimos “modernizar” José de
Alencar. Contando com alguns talentosos atores e a boa vontade de todos, o
trabalho alcançou um grande sucesso. Tanto que foi reapresentado.
Após a reapresentação
veio o convite do então diretor do Colégio, Dr. Kalil, para montarmos um Grupo
de Teatro na Instituição. Convite aceito, espaço à disposição, alguns alunos
interessados e tome “laboratório”. E no meio dos exercícios e jogos teatrais um
grupo de jovens nos procurou para dirigir A Exceção e a Regra, de Brecht. Um
grupo entusiasmado com claras tendências políticas naqueles anos de chumbo.
Resolvemos, depois de um ou dois encontros, unir as forças, isto é, levar o
grupo de jovens para se juntar ao grupo do Nogueira da Gama. Uma idéia feliz.
Um impasse com um
funcionário do Colégio e lá fomos para Aparecida e ficamos pouco tempo até
retornarmos à nossa casa. Os “laboratórios” continuavam a todo o vapor até
percebermos que era preciso ir para os palcos, apresentar-se, corria-se o risco
de ser um grupo inédito. E estreamos com O Ensaio, uma colagem de textos e
exercícios de nossos “laboratórios”. Com doze músicas gravadas em doze fitas
K7, montamos a trilha sonora, que misturava rock com música clássica, passando
pelo rock progressivo e MPB.
A partir daí, o Grupo
se solidificou, havia uma certa rotatividade, mas a base era mantida. Enfim, um
Grupo de Teatro que, à certa altura, se modificou. Alguns elementos saíram,
resolvendo enveredar por caminhos mais seguros, outros por tentar novos rumos
no teatro, os que ficaram receberam a companhia de outros jovens e o Grupo durou
até 1982.
O paradoxal é pertencer
a uma instituição com viés conservador fazer trabalhos contestadores. Pensava
que poderia mudar o País com o teatro. Um sonho utópico. Os tempos eram
sombrios, um processo rolou na
Aeronáutica, pois um capitão, aluno da Faculdade se sentiu ofendido com o
policial de Corinthians, meu amor. Na realidade o tal representava a repressão.
Uma chamada na PF para esclarecimentos. Mas, felizmente, não engordei a lista
de presos políticos.
Outros trabalhos, na mesma direção, Retalhos
Mentais de um Cidadão (Quase) Equilibrado, A Máquina Geradora, O Espetáculo
Continua. O Grupo de Teatro “Organização Guará de Ensino” participou de alguns
Festivais, viajou, esteve em Cruzeiro, Lorena, Aparecida, Pindamonhangaba,
Taubaté, S. José dos Campos, Guarulhos, Suzano, S. Paulo.
Mais que um Grupo de
Teatro, uma escola, um espaço para o desenvolvimento intelectual para aqueles
jovens, incluindo o o Compadre Moacir.
Afinal não tínhamos chegado aos 40.
Jorge Nicoli
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SOPA DE CEBOLA
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