sexta-feira, 25 de setembro de 2015




Corinthians, meu amor, 1978



A pequena história de um grupo

O ano era 1974, o mês abril – ou maio – e um convite para dirigir um trabalho teatral que ilustraria a matéria de português. A escola, o tradicional Colégio Nogueira da Gama, de Guaratinguetá. O livro a ser adaptado era Senhora de José de Alencar. O resumo feito pelos alunos e a montagem do espetáculo cabendo a nós, eu e o amigo Zé Moacir. Na realidade, o convite era direcionado ao Moacir que já havia dirigido Morte e Vida Severina, com um grupo de universitários e o amigo, solidário como sempre, me levou para a aventura de adaptar um romance que eu mal conhecia e já achava chato. Mas usando a criatividade conseguimos “modernizar” José de Alencar. Contando com alguns talentosos atores e a boa vontade de todos, o trabalho alcançou um grande sucesso. Tanto que foi reapresentado.

Após a reapresentação veio o convite do então diretor do Colégio, Dr. Kalil, para montarmos um Grupo de Teatro na Instituição. Convite aceito, espaço à disposição, alguns alunos interessados e tome “laboratório”. E no meio dos exercícios e jogos teatrais um grupo de jovens nos procurou para dirigir A Exceção e a Regra, de Brecht. Um grupo entusiasmado com claras tendências políticas naqueles anos de chumbo. Resolvemos, depois de um ou dois encontros, unir as forças, isto é, levar o grupo de jovens para se juntar ao grupo do Nogueira da Gama. Uma idéia feliz.

Um impasse com um funcionário do Colégio e lá fomos para Aparecida e ficamos pouco tempo até retornarmos à nossa casa. Os “laboratórios” continuavam a todo o vapor até percebermos que era preciso ir para os palcos, apresentar-se, corria-se o risco de ser um grupo inédito. E estreamos com O Ensaio, uma colagem de textos e exercícios de nossos “laboratórios”. Com doze músicas gravadas em doze fitas K7, montamos a trilha sonora, que misturava rock com música clássica, passando pelo rock progressivo e MPB.

A partir daí, o Grupo se solidificou, havia uma certa rotatividade, mas a base era mantida. Enfim, um Grupo de Teatro que, à certa altura, se modificou. Alguns elementos saíram, resolvendo enveredar por caminhos mais seguros, outros por tentar novos rumos no teatro, os que ficaram receberam a companhia de outros jovens e o Grupo durou até 1982.

O paradoxal é pertencer a uma instituição com viés conservador fazer trabalhos contestadores. Pensava que poderia mudar o País com o teatro. Um sonho utópico. Os tempos eram sombrios, um processo rolou  na Aeronáutica, pois um capitão, aluno da Faculdade se sentiu ofendido com o policial de Corinthians, meu amor. Na realidade o tal representava a repressão. Uma chamada na PF para esclarecimentos. Mas, felizmente, não engordei a lista de presos políticos.

 Outros trabalhos, na mesma direção, Retalhos Mentais de um Cidadão (Quase) Equilibrado, A Máquina Geradora, O Espetáculo Continua. O Grupo de Teatro “Organização Guará de Ensino” participou de alguns Festivais, viajou, esteve em Cruzeiro, Lorena, Aparecida, Pindamonhangaba, Taubaté, S. José dos Campos, Guarulhos, Suzano, S. Paulo.

Mais que um Grupo de Teatro, uma escola, um espaço para o desenvolvimento intelectual para aqueles jovens, incluindo o  o Compadre Moacir. Afinal não tínhamos chegado aos 40.

Jorge Nicoli

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