domingo, 20 de setembro de 2015


Um cheiro bom

“A todos que gritaram gol pelas tardes de bola...”

“Calipeiro”: Era o nome do lugar Onde às tardes, Sonhavam os craques!

- Uma bola nova cheirando a couro e tinta, comprada na “Casa Caltabiano”, com o dinheiro da “vaquinha” (arrecadação entre amigos)

E que já envelhecia no primeiro “Racho”.

“Racho”: Nome do jogo que sempre acabava em um a zero!

Pois, só um time saia com a vitória e o sabor da derrota do outro. Os gols eram sempre descontados nos momentos de empate, até que uma bola se pusesse pra dentro de um espaço que não passava de dois passos entre duas “pedras”.

“Pedras”: eram os obstáculos que substituíam as traves.

Se a bola passasse por cima, valia a melhor avaliação do olhar, pelos ângulos da
visão particular de cada um. Venciam os melhores argumentos do bom senso da “regra”.

“Regra”: conjunto de combinados pré-estabelecidos ao longo da prática futebolística e sem nunca haver um juiz.

- Tudo valia a partir da decisão do comum acordo à suposta infração; diga-se de passagem; demorava muito chegar ao acerto duma conclusão...

Exemplo: * “Bola alta”, não valia gol, pois não havia travessão.
* “Dois num”, era falta batida com rapidez. * “O gol feito”, só valia de dentro duma área demarcada apenas pela ilusória medida do olhar.

- Se por acaso uma falta acontecia ali, todos cercavam a bola que permanecia intacta diante de trancos corporais e desaforos inocentes, até que a mesma fosse tocada por alguém do time de direito.

O jogo, muitas vezes terminava quando alguém mandava longe a bola, pra dentro do mato.

E como a luz já prenunciava a noite, todos iam embora em discursos exaltados, dignos de grande final.

E tudo se repetia na tarde seguinte, quando o sol começava a se pôr lá entre o farfalhar das folhas dos altos e olorosos eucaliptos;
motivo do nome dado àquela arena de terra batida sob uma fina areia solta e leve: “Calipeiro”.

Ah! Parece que ouço as vozes dos meus antigos companheiros de time que voltavam à “Pracinha” para trocarem vantagens, risos, entre os contratos das pontas de cigarros. Depois, Íamos dormir sem raiva... Outros tempos!

A bola? Lá estava ela na tarde outra! Quem a resgatou? Nunca soubemos! Recomecemos: Um chute no ar e pronto! Tudo de novo e tão vivo aqui dentro de mim.

José de Lima
Nascido em Guaratinguetá, hoje radicado em S. Paulo

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